Saiba quais
são as melhores alternativas de investimento no mercado e as melhores fontes de
obtenção de recursos para expandir seu empreendimento. Mas, sobretudo, saiba o
que é essencial para gerir as finanças de sua empresa da forma mais eficiente
possível em boas mãos
Ganhar dinheiro é
fundamental, mas se você não souber cuidar do que ganha é como se não tivesse
ganhado. "Dinheiro não aceita desaforo", diz o proprietário da
empresa de consultoria e gestão interina Strategos, Telmo Shoeler. Em outras
palavras, quem administra uma empresa na pura "tentativa, erro e
acerto" corre sérios riscos de não ter chance de chegar ao acerto.
Por isso, a boa
administração financeira, profissionalizada e integrada aos demais setores da
empresa, sobretudo o operacional, é essencial à sustentabilidade e ao sucesso
da sua empresa.
Para ajudá-lo a
acertar, SuperHiper conversou com consultores especializados em gestão
financeira, que trazem nesta reportagem orientações para a adoção de medidas
básicas de gestão financeira; dicas de investimentos financeiros para encorpar
os rendimentos já obtidos operacionalmente; dicas de obtenção de recursos, com
os menores custos do mercado, para investir em sua operação, e um case que
ilustrará boa parte dos temas tratados.
Giro de
estoque
Quando se fala em
gestão financeira eficaz em varejo, não há como negligenciar um aspecto da operação:
o giro de estoque. "O erro mais comum na gestão financeira tem sua matriz
na gestão operacional. Se o giro de estoque não é controlado e administrado seu
impacto na gestão operacional e financeira [fluxo de caixa] tende a ser bem
negativo", diz o diretor-executivo interino da rede gaúcha Peruzzo, Rafael
Gomes, que também é consultor da Strategos.
Gomes realiza na
rede um trabalho com duração de dois anos (que está em seu quarto mês) com o
propósito de profissionalizar a gestão da empresa, principalmente por causa de
sua rápida expansão nos últimos anos. O Peruzzo tem apenas 17 anos de história,
mas já conta com 23 lojas, das quais três foram adquiridas neste mês, e está
presente em mais de oito municípios do interior do Rio Grande do Sul. O consultor
do Sebrae-SP, Salvador Serrato, conta que é normal empresas que mudam de porte
rapidamente enfrentarem dificuldades administrativas: "muda o porte da
empresa, não a mentalidade do gestor".
No caso do
Peruzzo, um dos maiores desafios é corrigir o descasamento do fluxo de caixa.
"O varejista vive da compra a prazo e da venda à vista. Ele precisa vender
a mercadoria antes de ter de pagar por ela." Do contrário, terá de tirar
de reservas que porventura tenha ou encontrar outras maneiras (como tomar
empréstimos de bancos), o que não é vantajoso.
Em resumo, a finalidade da administração de estoque é girá-lo o mais rapidamente possível, sem deixar que a mercadoria falte. O administrador financeiro tende a atuar como um assessor nessa operação, sem exercer controle direto, mas auxiliando na administração dele. Quanto antes o varejista vender, ou seja, quanto mais rápido for o giro de estoque, por mais tempo ele terá o dinheiro para fazer o que julgar mais apropriado. O princípio do "prazo médio de rotação do estoque" é simples na teoria, mas nem sempre o é na prática. Cada empresa tem suas peculiaridades, suas condições de negociação com os fornecedores, etc.
Para corrigir o "descasamento" no Peruzzo, Gomes centraliza os esforços em duas frentes: alongamento dos prazos dos fornecedores e diminuição do giro de estoque. "Até o fim de 2012 teremos equacionado este problema. As conversas com os fornecedores vão muito bem e eles se mostram receptivos, porque essas ações transmitem confiança aos parceiros, mostram que a ideia é estabelecer vínculos comerciais mais profissionalizados, com contratos de longo prazo em que ambos ganharão e, por outro lado, mostra que a companhia se dedica a aprimorar a operação, tornando-a mais eficiente, com o que todos ganham."
Gomes diz que a
ideia é romper com uma cultura comercial de compra por oportunidade,
especulativa, para estabelecer um vínculo de sólida e duradoura parceria com os
fornecedores. "As medidas [alongamento dos prazos e diminuição do giro de
estoque] que estamos colocando em prática nos possibilitarão reduzir entre 1,5%
e 2% os custos financeiros da empresa."
"CPI"
Um fluxo de caixa
bem "casadinho" passa por três palavrinhas: controle, planejamento e
integração (CPI). Em primeiro lugar é preciso saber quanto se vende e em quanto
tempo se vende certo produto, o que se descobre por meio de consulta ao histórico
de vendas: controle. Depois dessa verificação, deve-se comprar, avaliando as
condições operacionais, de modo que o abastecimento seja o sufi ciente para não
dar ruptura nem sobra que prejudique o ciclo financeiro (planejamento). Isso
tudo pressupõe integração entre o departamento de compras, o centro de
distribuição, as lojas e o financeiro.
Controle, mais
planejamento, mais integração não se restringe ao fluxo de caixa, mas o exemplo
é bem válido para ilustrar sua importância. Como se vê, só é possível planejar
quando se tem controle e só é possível pôr um plano em prática com sucesso
quando, de fato, há integração. "Os erros mais comuns em gestão financeira
são os mesmos em grandes, médias e pequenas empresas: falta de planejamento,
falta de controle de fluxo de caixa e administrações amadoras", diz
Schoeler. A gestão amadora é fruto da ausência de profissionais especializados,
que saibam fazer o controle, elaborar planos em cima dos números obtidos e
integrar os departamentos para realizá-los.
"O
departamento financeiro é o eixo da operação comercial; é o integrador, porque
tem acesso a todos os dados. Precisa visualizar os erros cometidos e orientar
para a correção, além de cumprir papel crucial no estabelecimento de planos
para a geração de reservas financeiras que garantirão a empresa nos momentos de
crise conjuntural", diz o professor BBS Business School, Ricardo Torres.
As questões
conjunturais, a que se refere Torres, são mais importantes do que se imagina.
"É importante saber a hora de guardar dinheiro e a hora de investir.
Geralmente, os melhores períodos para acumular reservas são os de bonança,
porque ao chegar a ‘tempestade', sua empresa estará preparada para superá-la e
aproveitar as oportunidades que surgirão." Esse também é um atributo do gestor
financeiro. "Sun Tzu escreveu em
a Arte da Guerra que em períodos de paz devemos nos preparar
para a guerra e, em períodos de guerra devemos nos preparar para a paz. Essa
regrinha vale para a gestão financeira."
Embora as medidas
no Peruzzo tenham a função de corrigir desajustes decorrentes de um crescimento
rápido no passado recente, cumprem também o papel de preparar a empresa para um
plano de expansão. "Além da aquisição que acabamos de fazer, vamos
inaugurar mais uma loja ainda neste ano, na cidade de Bagé [onde fica a sede da
empresa]", explica Gomes. Para que esse crescimento previsto não venha
acompanhado de indesejado prejuízo das reservas financeiras e de ineficaz fluxo
de caixa, a empresa já toma as providências necessárias.
Veículo: Revista
SuperHiper julho de 2012
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